Uma esplanada. Um pessoal. Um sol apetecível. Tudo apontava para um delicioso café a meio da tarde. Faço o pedido e caio no erro de reparar na mesa ao lado: um homem, pelos seus trinta, escreve o que parece ser uma carta, a tinta permanente preta, em cima de um livro. Parece concentrado, quase que inspirado.
O café chega e, enquanto misturo o açúcar, não resisto e espreito novamente a mesa, para ver como ia a carta. Erro fatal. O homem pára de escrever e saca de um lenço de bolso. Achei curioso o facto de não ser de papel, coisa tão vulgar nos nossos dias. Tudo levava a crer que a pessoa estava ranhosa e iria arrancar algumas cutxanas do seu abrigo.
Mas não. O lenço é desdobrado e a caneta de tinta permanente transforma-se num cotonete gordo embrulhado no pano. Enfia a caneta na orelha e começa a coçar como um cão sarnoso. Não contente, retira o lenço, observa o lixo amarelado e repete a cena.
Enquanto isto acontecia, o meu café ia perdendo o sabor.
Satisfeito com tanta coçadeira, arruma o lenço no bolso, volta a abrir a caneta e tenta acabar a carta. Parece que com a cera, foi-se a inspiração e o papel acaba no lixo.
Foi uma grande noja. De repente, a imagem aqui de cima deixou de parecer tão descabida.
Sem comentários:
Enviar um comentário