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O café chega e, enquanto misturo o açúcar, não resisto e espreito novamente a mesa, para ver como ia a carta. Erro fatal. O homem pára de escrever e saca de um lenço de bolso. Achei curioso o facto de não ser de papel, coisa tão vulgar nos nossos dias. Tudo levava a crer que a pessoa estava ranhosa e iria arrancar algumas cutxanas do seu abrigo.
Mas não. O lenço é desdobrado e a caneta de tinta permanente transforma-se num cotonete gordo embrulhado no pano. Enfia a caneta na orelha e começa a coçar como um cão sarnoso. Não contente, retira o lenço, observa o lixo amarelado e repete a cena.
Enquanto isto acontecia, o meu café ia perdendo o sabor.
Satisfeito com tanta coçadeira, arruma o lenço no bolso, volta a abrir a caneta e tenta acabar a carta. Parece que com a cera, foi-se a inspiração e o papel acaba no lixo.
Foi uma grande noja. De repente, a imagem aqui de cima deixou de parecer tão descabida.
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